Memorandos


Na juventude recebi memorandos sobre meus cachos, meu corpo, minha pele. Decidi ignorar, mas a sociedade não se faz de rogada e teimou em mandar  esses memorandos, lembrando que não me enquadra aos padrões tão quisto por ela. 
Quando me tornei adulta foram outros memorandos, sobre meu corpo, é um apego que a sociedade tem aos padrões de beleza: o peso e estaturas certos, como o nariz têm ser, se não temos essas medidas e ajustamentos nem podemos ser consideradas bonitinhas; ser solteira é um pecado inaceitável; não trabalhar nem se fala, ofensivo demais, sendo repudiado por qualquer um. Bem, eu estava ocupada vivendo e deixei passar esses memorandos. 
Quando fui entrando na meia idade e o tempo marcou seu espaço em mim. Veio outros memorandos enfatizando que devemos ter vergonha de envelhecer. Nem sabia, mas ter cabelo branco é desleixo e só podemos deixá-los assim, como a natureza o fez, depois de uma certa idade; não podemos envelhecer mal, nem sabia que isso existia, pensei que só envelhecíamos. Ledo engano, temos que envelhecer jovem, sem rugas e linhas, se os temos, devemos esconder  e disfarçar da melhor forma possível.  Nada disso importa, por que me acostumei a ignorar os memorandos  sociais.
Uma forma de ir contra esse preceitos que  nos aprisiona, especialmente as mulheres, assim  as gerações futuras não precisarão receber memorandos como a minha geração recebeu. 

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