chuva de corações

A chuva castigava a pequena cidade no centro oeste brasileiro.
Feliz pelo cancelamento das aulas a menina tinha os olhos grudados na janela, observava a rua que lentamente virava um rio e os sacos de lixos que boiavam sem rumo na agua barrenta, a menina pensou como poderia estar feliz com tanta gente sofrendo, esse pensamento fez seus olhos encherem de lagrimas incontrolaveis como a chuva que caia lá fora.
O dia passou sem novidades, almoço com seus pais e irmãos, jogo de tabuleiro, desenhos e brincadeiras a tarde, tudo acompanhado com o barulho incessante da chuva.
- Vamos, vamos!!!!
As brincadeiras foram enterrompidas pelo chamado desesperado da sua mãe.
- Rápido, temos que ir, não larga o brinquedo, esquece a boneca, ela vai ficar bem, tem que ser agora a agua não para de aumentar, CRIANÇAS O BARCO ESTÁ ESPERANDO LÁ FORA!!!!
Dentro da casa um verdadeiro pamdemonio, fora dela o desespero, pessoas tentavam salvar alguma coisa, colocavam sacos de areias na porta criando barreiras improvisadas que logo eram destruidas, outras desistiram de salvar suas casas para salvarem a si próprios, não eram só os sacos de lixos que boiavam na rua mais também restos de historias e de vidas.
O barco da defesa civil era pequeno para a menina, seus 3 irmãos e seus pais, ela olhava desolada todo aquele cenário de destruição, as gotas de agua machucavam seu nariz e bochechas, por mais que tentasse se protejer não adiantava de nada.
Agua que cai, não para, a pedra que fica fura para depois rolar, cantarolava baixinho durante a travessia do barco para um lugar alto e mais seguro.
- Mamãe, e se em vez de agua caisse corações, uma chuva de amor, em vez de destruição felicidade!!! Falou a menina antes de dormir numa cama improvisada no ginásio da cidade.
- Seria ótimo...
Ela fechou os olhos, viu corações de todos os tamanhos caindo do céu, eram fofos e vermelhos, rosas, amarelos, azuis, não faziam aquele barulho áspero da chuva comum e nem tinha raios que a amedrontava tanto, era um barulho suave como do piano que sua mãe tocava a noite. As flores ficavam mais alegres com a chuva de amor e as pessoas mais felizes, os coraçoes podiam cair por dias que não trazia destruição, as casas não alagavam e os morros não desabavam, ninguem morria, as ruas se enchiam de cor, os lixos ficavam onde tinham que ficar e anjos dançavam na rua.
Esqueceu de onde estava, do que vira, por alguns minutos a menina se sentiu segura como se estivesse em sua cama, dormiu profundo com um sorriso nos lábios, sonhou com a chuva de amor.

Comentários

Postagens mais visitadas